Questionamentos são constantes na vida de qualquer pessoa. Durante a adolescência, as perguntas e, muitas vezes, a falta de respostas, são frequentes. Imagina só o quanto essas indagações multiplicam-se, em meio a uma pandemia?! Quando é possível manter os estudos em dia, o online pôde garantir o distanciamento seguro, sem afetar drasticamente o aprendizado. Mas, e para quem não tem acesso à internet? Jovens que almejam uma formação acadêmica estão envoltos em uma série de situações problemáticas que, infelizmente, não são assistidas devidamente…

Hoje, uma palavra vem sendo falada, constantemente: empatia. Do dicionário Houaiss, significa “capacidade de partilhar dos sentimentos e emoções de outra pessoa.” Seria possível esperar isso da família, amigos, governo? Estudar quando os jornais noticiam a tristeza alheia… Estudar quando a casa não acomoda os familiares de forma adequada… Estudar quando as oportunidades não são favoráveis…

Outra palavra debatida: meritocracia. Só dar um Google, e a primeira descrição diz: “predomínio numa sociedade, organização, grupo, ocupação, daqueles que têm mais méritos (os mais trabalhadores, mais dedicados, mais bem dotados intelectualmente).” O Brasil mostra a sua desigualdade, constantemente, e o mérito é de quem não quer ver essa situação ao camuflar as condições adversas, com justificativas que não são pertinentes à realidade sentida por quem ama a escola, mas não consegue manter a frequência em sala de aula, por não ter meio para o transporte, por exemplo.

O diretor de cinema, João Jardim, acompanhou entre abril de 2004 e outubro de 2005, jovens de três cidades diferentes, do Brasil. Os Estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo foram cenário real do filme documentário intitulado “Pro Dia Nascer Feliz”, de 2006, cujo mote traz as inquietações de jovens perante a educação pública, a relação com professoras, bem como, o contraste com o mundo da educação privada. Adolescentes em idade próxima para finalizar o ensino médio, apontam o que o país oferece para essas pessoas prestes a decidirem o que farão com o que têm em mãos. Em Manari, no interior de Pernambuco, Valéria, uma jovem poetisa recita o que sente e vê no seu dia a dia. A escola é frequentada quando há disposição de transporte para conduzir os(as) estudantes. Os livros são seu ponto de escape, diante de suas necessidades e desejos como cidadã, em contrapartida ao que lhe é permitido.

Rio de Janeiro e São Paulo apresentam a rotina dos(as) alunos(as) com a dispensa de aulas, constante, por falta de professores(as). O ambiente escolar da periferia dessas cidades podem revelar que, os(as) adolescentes, além de conviverem com essas situações, deparam-se com a violência, ou seja, o que é ofertado em seu cotidiano vulnerável. Enquanto o(a) espectador(a) mergulha nessa vivência, a docência passa por suas angústias em torno dessa circunstância. Em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, um grupo de professoras realiza o conselho de classe e decidem aprovar um dos alunos, Deivison. Ele é integrante da banda, parte do grupo cultural da escola, uma das motivações para mantê-lo ali.

Em Itaquaquecetuba, São Paulo, Celsa, uma professora de ensino médio, acompanha os(as) alunos em uma atividade de Fanzine (revista confeccionada pelo grupo), por meio de colagem de textos. Nesses casos, João Jardim, explora o universo das professoras, alunas e alunos. O que os aflige diante do que é imposto e ofertado. Profissionais da educação cansados(as), estudantes que não se identificam com o ambiente escolar e jovens que se dedicam, mesmo com situações de desmotivação.

Já no bairro Alto de Pinheiros, o diretor de cinema acompanha adolescentes de uma instituição de ensino particular. Os questionamentos existenciais, provas, amizade, o entorno da idade são apontamentos evidenciados. As instalações físicas dessa escola e das demais apresentadas ao longo do filme, representam o quadro de desigualdade social, econômica e simbólica brasileira, colocando em julgamento a meritocracia defendida por muitos(as), que impõe a ideia de que o esforço individual é o suficiente e explica o sucesso dos indivíduos.

Afinal, como estão, hoje, todos os(as) adolescentes apresentados no documentário? A balança da igualdade não está equilibrada. Atualmente, os(as) estudantes do colégio particular de São Paulo, poderiam contar com o ensino à distância, apropriado. Os demais, em sua maioria, infelizmente, teriam que aguardar a vacina da consciência.


Artigo escrito por Nathalia Cavalcante
Nathalia é jornalista formada pela Universidade Positivo (UP) e em Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP – Unespar). Já dirigiu curtas-metragens e diversas obras audiovisuais premiadas e selecionadas para festivais, além de ser atriz de teatro e produtora. Divide suas andanças pelo mundo através do Instagram e compartilha parte de seu trabalho pelo Vimeo.


Foto de Capa/ Destaque: Getty Images;
Fotos que ilustram o artigo: Divulgação/ Tambellini Filmes;
Foto da Autora do Artigo: Arquivo Pessoal/ Nathalia Cavalcante.

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