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Adolescentes criam videodocumentário sobre iniciativas sociais da periferia de Belo Horizonte

Celular na mão, várias ideias na cabeça e uma vontade de ir além do que os(as) educadores(as) pediram. Se fosse pra fazer um hiper resumão, acredito que essa seria a melhor forma de descrever o processo criativo que levou a estudante mineira Luana de Abreu Cavalcanti, 16 anos, a criar o videodoc de curta-metragem “Favelização e Identidade Cultural em Belo Horizonte”, lançado recentemente em seu canal de Youtube, junto com outros(as) estudantes colaboradores(as).

A ideia de fazer o vídeo surgiu de uma inquietação por ocasião da realização do Congresso Juvenil Marista (CJM), em quê, segundo Luana, o objetivo era elaborar um artigo científico sobre uma temática proposta. O grupo dela ficou com o tema que deu nome ao documentário. “Não acreditava que isso [escrever o artigo em grupo] seria suficiente para realmente expressar o que essa temática envolve, que são sujeitos, cheios devida e histórias pra contar. Daí surgiu a ideia de fazer um videodoc com alguns projetos sociais, para que as pessoas pudessem contar além das suas realidades, mas também como elas atuam para fazer a mudança”, explica a garota que estuda no Colégio Marista Dom Silvério e é adolescente aprendiz na produtora de vídeo Imago Filmes.

Um dos locais de gravação tinha vista para o campinho do “Pau Comeu”. | Foto: Arquivo pessoal/ Luana de Abreu

“O processo todo foi muito lindo e enriquecedor. Desde o primeiro contato com os projetos, onde acabei conhecendo pessoas maravilhosas que me inspiraram e continuam a inspirar imensamente, até as visitas e gravações, momentos nos quais aprendi tanto com a câmera ligada, mas principalmente desligada”, comenta. O engajamento da Luana não é de hoje. Ela também é Conselheira Municipal das Juventudes de Belo Horizonte no setor educacional, membro da Comissão Local e Provincial das Juventudes Marista Brasil Centro-Norte e Ativista da iniciativa “Mapa Educação” de Minas Gerais. Recentemente, em novembro de 2018, ela participou de um evento internacional no Rio de Janeiro, o “Encuentro de Niñas, Niños y Adolescentes”, da Subregião Sul da América Latina, junto com outros(as) adolescentes representantes de países como Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Brasil. O portal Universo Educom clicou a camiseta dela para este ensaio fotográfico, publicado no final de novembro de 2018.

Dê o play a seguir para assistir a íntegra do videodocumentário!


Multiprotagonistas em ação!

Quem ao assistir ao doc, vai perceber a participação cidadã ativa de três gerações: a infantil, a adolescente e a juvenil. Os(as) jovens são os(as) personagens entrevistados(as), que contam suas iniciativas desenvolvidas no Aglomerado da Serra, um conjunto de bairros localizado na região centro-sul de Belo Horizonte, periferia da capital mineira. “Sem dúvidas aprendi muito do começo ao fim, e descobri nisso tudo algo que sinto paixão e desejo de levar pra vida”, analisa Luana. Os(as) adolescentes acabaram sendo envolvidos(as) como colaboradores(as) e na gravação do material.

Luana entrevistando o artista e agitador cultural Kdu dos Anjos. Foto: Arquivo pessoal/ Luana Abreu.

 

Entretanto, uma das coisas que chama a atenção é o fato do documentário contar com uma trilha sonora surpreendente, dotada de crítica social, que é cantada de maneira autoral pelo MC Bignei.Ele é rapper, ator, modelo e participa das oficinas do “Centro Cultural Lá da Favelinha”,que é uma das iniciativas sociais retratadas no documentário da Luana. “Sou uma grande fã do Bignei! Desde minhas primeiras visitas ao Lá da Favelinha já havia me encantado. Quando fui gravar com o Kdu, acabei filmando também algumas oficinas e, coincidentemente, teria oficina de rap no dia, que é dada pelo rapper Bobnei, pai do Bignei. Na oficina, tive o privilégio de gravar os dois e o Kdu rimando e improvisando juntos. Ao rever essa cena, no momento da edição, me dei conta que não teria como ser outra trilha se não a música incrível e cheia de conteúdo do MC Bignei”, relembra Luana.

Ouça a música “Temos que ter compromisso” logo abaixo:


Inclusive, o Centro Cultural lá da Favelinha tá com um projeto incrível de ampliação do espaço para melhorar a oferta de suas oficinas e o atendimento à crianças, adolescentes, e jovens! Clique aqui para compreender o projeto e fazer a sua doação.

Não pára não, Luana!

O videodoc é o segundo produto audiovisual publicado em seu canal de Youtube. “Com certeza esse é só o começo. Tenho um desejo imenso de continuar esse projeto produzindo mais conteúdos envolvendo cultura, direitos humanos, educação, desigualdade, etc., principalmente na minha cidade, em que acabei desenvolvendo um fascínio maior ainda a partir do estudo e produção do trabalho”, esclarece. Para ela, é muito importante que adolescentes e jovens estejam envolvidos(as) em causas sociais.

“Somos frequentemente colocados como futuro do país, mas no presente somos menosprezados e negligenciados. Temos uma capacidade e desejo de começar a mudança hoje, e isso é admirável”.

Luana Abreu

Quem vê o resultado do videodoc, talvez, não faça ideia dos desafios que precisaram ser superados, como as diversas idas à Serra para fazer as gravações, enfrentara chuva, garantir que a memória do celular não vai ficar cheia etc. A Luana contou que o maior desafio na produção do videodoc foi o processo de edição, que ela precisou fazer sozinha. “Minha grande sorte foi ter o apoio da Imago Filmes, a partir do meu pai, Xande Pires, que me auxiliou em todo o processo, dando dicas, tirando dúvidas, e indicando as ferramentas necessárias”, explica.

Um dos locais de gravação tinha vista para o campinho do “Pau Comeu”. | Foto: Arquivo pessoal/ Luana de Abreu


E você? Também quer fazer seu videodoc independente?

No portal Universo Educom, já foram publicados diversos conteúdos que relatam experiências de produção audiovisual feitas por e com adolescentes. Tem materiais mais teóricos como o e-book “Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos” até conteúdos que explicam o passo-a-passo da produção, como o “Produção Audiovisual Comunitária”, com dicas sobre como pensar num roteiro, fazer bons enquadramentos, cuidar da iluminação e envolver a comunidade retratada nos processos de produção e escolhas de modo geral.

Pausa para foto com o jornalista e pesquisador no Centro de Referência das Juventudes, Bruno Vieira. | Foto: Arquivo pessoal/ Luana de Abreu.

Entretanto, nem todo mundo tem acesso aos recursos para fazer vídeos; a dica da Luana, é ir atrás de ideias criativas e se unir a outras pessoas que tenham o mesmo desejo de produzir bons conteúdos com você! “A dica que eu daria para adolescentes que gostariam de começar a produzir vídeos seria procurar um tema que desperta paixão real, porque isso nos mantém firmes e empenhados durante todas as dificuldades do processo. Do mais, é muito importante que utilizemos os recursos que temos acesso, atualmente a tecnologia ajuda muito, não é difícil termos contato com smartphones com uma câmeras de ótima qualidade e que são capazes de gravar vídeos incríveis. Junte um grupo de amigos que compartilham desses desejos e produzam um conteúdo usando e abusando da criatividade que possuem!”, incentiva.

Diretor da Rádio Favela Autêntica FM falou sobre a importância da comunicação para a comunidade local. | Foto: Arquivo pessoal/ Luana Abreu.

Começar dando passos menores, produzindo vídeos menos complexos e investindo na convergência com as redes sociais pode ser uma boa alternativa. “Atualmente as redes sociais estão muito presentes no dia a dia, principalmente, de nós jovens. Nesse sentido, é muito importante que procuremos formas de utilizá-las com criatividade e inteligência para que não nos tornemos reféns”, comenta Luana.

O portal Universo Educom ficou sabendo do videodoc dela através de um Insta Stories que ela postou no seu perfil de Instagram. Já pensou se ela não divulga o lançamento do material por lá? Talvez, a gente não tivesse ficado sabendo dessa iniciativa… “Acabei encontrando na internet uma forma de me contatar e acompanhar pessoas que me inspiram, inclusive foi assim que contatei muitos dos entrevistados. Foi interessante como que a partir de um contato com uma pessoa, esta indicava outro, e assim sucessivamente, criando uma rede de colaboração maravilhosa! Além disso, as redes sociais, em especial o Instagram foi, e está sendo, uma forma que encontrei de compartilhar esses projetos com amigos, que vão divulgando para outros e o crescimento é exponencial. Acredito que essa é uma forma incrível de explorarmos a internet como uma ferramenta que acrescenta e auxilia na nossa vida”.

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Written by Diego Silva

Jornalista, educomunicador, membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos no Paraná (2016-2018) e cofundador do coletivo Parafuso Educom. Além de produzir conteúdo para o portal Universo Educom, também escreve para a AJN - Agência Jovem de Notícias, Revista Viração e blog 'Educação e Mídia', da Gazeta do Povo. Desde 2015 é associado à ABPEducom - Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação.

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